sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Tempestade

Grita...grita tão alto quanto os seus pulmões conseguem aguentar...de braços abertos,de mãos abertas.
Aisha está perigosamente á beira do precipício,sempre naquela posição,acabando um grito e começando outro logo de seguida.
Está de costas para mim...não me vê na escuridão.
Há muito tempo que estou aqui...este é também o meu precepicio desde o tempo que sou criança.
Estava aqui escondido quando a vi chegar a correr,quase lhe gritei quando a vi chegar a correr e parar subitamente no último pedaço de rocha.
Senti que começou a tempestade dentro dela minutos antes da tempestade verdadeira se apoderar da terra,chovia tanto,tovejava ainda mais,e raios iluminavam aquela figura magra e pequena...de braços abertos,talvez á espera que um raio lhe caísse em cima....
Tinha de me revelar e ir buscá-la...acolhe-la...não tinha medo de tempestades,pelos vistos ela também não,mas o meu coração começava a recear por ela.
Na minha alma comecei a perguntar-me porquê...e o meu coração acelarou com mais um estrondo de um trovão.
Estava fascinado...completamente encharcada,mas as suas vestes e cabelos movimentavam-se ao sabor do vendaval...como se ela própria também fosse ...outra força da natureza.
Queria aquela mulher...já a tinha tido...mas nunca a senti minha...nunca a quis minha.
Subitamente ela ajoelhou-se...e parou,a tempestade dentro dela parou.
Aisha deitou-se no chão,deixando-se enlamear...molhar,parecia ela também uma rocha.
Era louca esta mulher!
Levantei-me determinado e fui buscá-la...ia regatear,já estava a ver...mas não podia deixá-la ali assim.
Ao meu primeiro toque ,ela olhou-me e nem uma palavra,nem um movimento,deixou-me pegá-la e carrega-la para o meu abrigo.
Tirei -lhe as roupas e envolvia no meu cobertor de pêlo.Acomodou-se como uma gata,partilhou a minha almofada sem uma reclamação,o cabelo estava a secar,e eu estava surpreendido,o cabelo liso estava cheio de suaves ondas e era a única coisa que parecia ter vida naquela pessoa...tirando os grandes olhos côr de ambar...abri a boca para lhe dizer que era linda,mas com um simples toque do polegar nos meus lábios,ela calou-me.
Foi ela quem falou.-Agora estou limpa...-olhou-me dentro dos olhos,dentro da alma,pela primeira vez sorriu-me,e de seguida adormeceu.
A tempestade continuou até ao amenhecer,e aos primeiros raios de sol,abandonei-a no agora ,nosso abrigo.
Reparei quando me ia embora que no lugar onde ela estivera deitada,havia agora um um pequeno monte de malmequeres,voltados para o sol,alimentando-se daquela luz...caminhei até lá,estava a ver bem ,arranquei um da terra...eram reais!
Nunca o esquecerei....
Ainda tenho essa flor guardada,no meio das páginas de um dos meus livros.

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